sexta-feira, 26 de junho de 2009

ODEIO VACAS

A vaca é um bicho extremamente desinteressante. Não sei se alguma vez perderam tempo a observar, de forma particularmente atenta, algum exemplar, mas se o fizeram, certamente, considerarão esse mesmo tempo irreversivelmente perdido.
Observar uma vaca é o mesmo que assistir a um colóquio sobre reinserção social de todos os bêbados da freguesia. Há montes de moscas que apesar de voos rasantes às orelhas, vão todas aterrar na mesma bosta da vaca. Que não é mais que um monte de merda que saiu de um cu volumoso. Para além de termos de aturar este cenário bastante desagradável, ainda temos que aturar os donos das vacas, agarrados a um estadulho e a contar histórias da sua feliz infância e a tentar esconder o seu primeiro acto sexual com as suas amigas no dia que fez 14 aninhos. A vaca jamais deixará de ser uma vaca, as moscas continuarão a fazer o seu degradante e jabardo papel, e o monte de merda torna-se ainda mais dantesco e enfadonho.
Não entendo como é que alguém pode gostar de tal animal. Se, por algum acaso que agora não estou a ver, eu tivesse de enumerar o meu top de bichos, não estou a ver como haveria forma de incluir a vaca nesse top. Há tanto bicho castiço. O cão, o gato, o cavalo, o tigre, a raposa, o elefante. Sim, o elefante. Não me digam que um elefante não é muito mais fofo que o raio de uma vaca.
É que se virmos bem, a vaca, não passa de um ruminante lentíssimo, que tem uma cauda para enxotar moscas, moscas essas que atrai devido ao péssimo hábito que tem de deixar vários poios de bosta por onde passa. Tudo isto, convêm não esquecer, a um ritmo verdadeiramente lento, a fazer lembrar um velhote de 105 anos com soltura que se esqueceu de vestir uma fralda.
Há algo de decadente numa vaca, mexe comigo. O ar cansado, de quem é infeliz com a vida que leva. As manchas na pele, que mais parecem sinal de uma figadeira. Quem não souber, dirá que elas sofrem de cirrose hepática. E claro, a terrível companhia das moscas, que mais parecem abutres em miniatura, à espera do momento fatal para assim se poderem apoderar dos seus restos fecais.
Então, pergunta o povo, porque que é que um bicho tão desinteressante e porcalhão é sagrado na Índia? Só à pouco tempo descobri essa história. Não se trata de nenhuma superstição ancestral. Não tem nada de muito estranho e até tem bastante lógica. Deve-se ao seguinte: Se alguma mãe parideira, não tiver leite para amamentar as suas criancinhas, a quem terá de recorrer? Resposta rápida e obvia, à vaca. É esta a explicação. A vaca é a fonte de vida lá nas Índias, e pode cagar à vontade, porque junto ao rio Ganges, nem se nota a diferença entre os cagalhões das vacas e os das pessoas.
Pois é, isso é tudo muito bonito, mas os tempos mudaram. As vacas é que não. Por isso é que volta e meia lá descarrila um comboio e vão quinhentos indianos para o galheiro. Tudo isto porque sua excelência, a vaca, decidiu fazer uma valente bosta e logo a seguir uma sesta na linha ferroviária entre Calcutá e Bombaim. E o burro do maquinista em vez de pensar que se quiser leite basta-lhe ir ao Continente, Pingo Doce ou Jumbo, lá do sítio e trazer uma palete de leite, o que faz? Decide travar a fundo o seu comboio, que no fundo não passa de tractor dos anos 60, assente sobre os carris, herdados do estúpido colonialismo inglês, provocando uma catástrofe a 500 gajos. E fica tudo muito contente porque apesar das centenas de corpos trucidados, com uma perninha para ali e um bracinho para acolá, a puta da vaca contínua de boa saúde, a largar bostas e a enxotar moscas. Odeio vacas, que raio de bicho mais anormal.

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