terça-feira, 30 de junho de 2009

ESSA NOBRE ARTE DE OBSERVAR GAJAS POR AÍ

Tenho convivido toda a minha vida com o pânico, de um dia, um dos meus relacionamentos amorosos resultar. Não fazem ideia como é aflitivo estar na eminência de ser um gajo bem sucedido no amor. Não é que me dê mal com os compromissos, de modo algum. Dêem-me 7 ou 8 anos e até me adapto facilmente à ideia da exclusividade. Agora, deixar de olhar para outras mulheres é que nem me passa pela cabeça. Quanto a mim, a exigência implícita de que mal tenhamos um relacionamento sério temos de parar de olhar para outras e concentrar-nos na única que temos, é que é o grande problema da nossa sociedade mesquinha.
Muitos se perguntam: como saber quando uma relação está a ficar mais séria? Pois meus amigos, uma relação está a ficar terrivelmente séria quando a nossa companheira nos brinda com a frase, “Estás a olhar para onde?”. Ora, isto dá-me cabo da cabeça, porque elas sabem muito bem para onde é que estamos a olhar. Este breve reparo permite-nos retirar em simultâneo três lições essenciais à nossa sobrevivência: primeira, ela está já a funcionar em modo monogâmico. Alerta “Vermelho”, segunda, estamos a dar demasiado nas vistas; terceira, há razões de sobra para ficarmos bastante satisfeitos connosco próprios. Apesar de nos encontrarmos por esta altura em liberdade precária, ainda não perdemos a capacidade de destrinçar beldades rechonchudas ou esbeltas, quando um golpe do destino as coloca no nosso caminho.
Eu me confesso que, observar mulheres, é na realidade o meu grande hobbie e um dos meus grandes prazeres. Em todos as viagens e percursos que faço, activo o radar e o sonar e ponho-me a procurar pontos de referência. No entanto, observo-as de forma libidinosa muito menos vezes do que aquelas que gostaria. Simplesmente tenho de as ver a todas. Sinto que estou a compor uma espécie de álbum fotográfico para a posterioridade. Inconscientemente e enquanto homem sei que estou obrigado a armazenar nos meus arquivos cerebrais, o maior número possível de imagens de gajas. Talvez mesmo todas as boas gajas do mundo. O estimulante é que é uma missão que nunca está concluída. Haverá sempre mais e mais mulheres para vermos, algumas delas que vivem em países, passeiam em ruas e frequentam ginásios que nunca visitaremos.
Eu sou um caso perdido, bem sei. Mas há tipos que querem mudar. Para esses, gostaria de sugerir a toda a comunidade científica que arranje um tempinho, digamos, entre a cura para a sida e a vacina para a gripe das aves, e trabalhe num projecto que ajude a acabar com este vício. Lembrei-me que um pouco à semelhança dos pensos de nicotina para deixar de fumar, poderiam lançar no mercado pensos que forneçam a dose diária de mulheres que o organismo necessita. Começava-se por usar pensos que equivalem a 20 mulheres por dia, depois baixava-se para as 10 e assim sucessivamente até se estar completamente desintoxicado, pela módica quantia de 150€. Era capaz de ser interessante.
Duvido muito que sozinho alguém seja capaz. É um hábito extremamente difícil de se perder. Atenção, estamos a falar de pessoas que olham para o sexo oposto há vinte, trinta anos ou mais. Para deixar de reparar nelas é preciso muita força de vontade. E alguma miopia também. Invariavelmente, todos tentam e muito poucos têm o azar de conseguir. Estou a imaginar a conversa:
- Uau, olha-me bem para aquela gaja!
- Obrigado mas não. Ando a tentar deixar.
- Ah. Não sabia que tinhas namorada nova.
- Pois.
- Estás a aguentar-te bem ou quê?
- Tou a ir devagar pá, ando só a olhar para três ou quatro por dia.
- Hum... Reduziste bastante. Como é que te sentes?
- Mal, uma pessoa ao princípio não sabe onde é que há-de pôr os olhos.
- Eu também já tentei mas tive uma recaída. Não olhava para ninguém há 3 meses e 2 dias, levaram-me a um dancing-bar e foi uma desgraça.
- Nem me digas nada. Eu já mal saio de casa.
- Não te quero desmoralizar mas olha que quando chegar o Verão...
- Eu sei. É preciso é pensamento positivo: pode ser que o namoro não dure tanto tempo.

Enquanto não deixo, vou continuar a aperfeiçoar a arte de observar todas as gajas, com pinta e com classe.

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