segunda-feira, 29 de junho de 2009

FOTOGRAFIAS NA MESINHA DE CABECEIRA


Sou um gajo um bocado limitado e talvez por isso há determinadas coisas que eu não compreendo, ou não entendo. Pormenores do dia-a-dia, nada de muito importante. Por exemplo, não compreendo porque é que o Saramago não faz pontuação. Como vêm são coisitas banais que nem sequer me tiram o sono, ou não deviam tirar.
Como além de limitado também sou tímido não ando para ai a importunar as pessoas com estas minhas questões existenciais. Deixo a coisa andar. Deixem lá o velhote. No fundo o gajo deve ser feliz assim, sem pontos nem vírgulas, ou será que em Espanha não usam?!
Há no entanto um assunto que me intriga deveras, diariamente, já que desde há onze anos que levo com aquilo todos os dias. Porque é que se usa a fotografia do conjugue na mesinha de cabeceira ou em cima da cómoda ou ainda em cima da credencia no corredor? Será que isso faz parte de algum acórdão pré-nupcial, pré-institucionalizado? Sinceramente, não percebo. Eu ainda podia entender se fosse a minha fotografia do meu lado da cama e a fotografia dela do seu lado da cama. Isso até tinha alguma lógica, pois se chegasse bêbado a casa, olhava para a fotografia e saberia em que lado me deitar.
Teve uma altura em que a minha vontade era questioná-la sobre o porquê das fotografias estarem ali. Afinal de contas tanto os meus pais como os meus irmãos, como os tios de toda a gente, têm as respectivas fotos nas respectivas mesinhas e outros móveis da casa, por isso eu sempre supus que ou era tradição de família ou que devia haver alguma lei para isso.
No entanto esta noite algo mudou. Até pode ser que a dita lei exista, mas só pode ter sido criada por uma mulher. Esta história da fotografia na mesinha de cabeceira mais não é do que um superior e maquiavélico plano feminino para provocarem a morte do respectivo esposo. O objectivo mais não é do que ficarem viúvas.
Ontem à noite fui jantar a casa da minha apresentadora de televisão preferida, a Sonia Araújo. Cheguei lá por volta das nove da noite e ela estava a preparar-me um delicioso prato de qualquer coisa, com natas. Bebemos um Porto Ferreira enquanto a comida se fazia e fomos falando de coisas banais. É lógico que percebi logo que se tratava de um sonho, pois eu nunca estaria a jantar em casa da Soninha na vida real, já que ela é nova demais para mim, mas ainda assim o caminho que o sonho estava a levar agradava-me e deixei-me assim ir, embalado pelos lençóis. Jantamos bem, bebemos melhor e por fim continuamos a conversa acompanhados por uns digestivos. Não sei se foi do vinho, ou se foi do Whisky ou se foi do picante que estava nas natas, o que sei é que quando dei por ela ali estávamos nós... a tentar fazer a digestão.
Estivemos nisto a noite toda. Só adormecemos quando os primeiros raios de sol entravam pelas frestas da persiana. Acordei lentamente com um sorriso nos lábios. Aclarei a garganta rouca de tanto gemer com um pouco de água, abracei-a e sussurrei-lhe ao ouvido "Foi tão bom para ti como foi para mim?".
Para minha surpresa responde-me a minha parceira"Está calado que passas-te a noite toda a ressonar e a gemer e eu não preguei olho, deixa-me agora dormir!". Com o susto que apanhei, o meu ventrículo esquerdo entrou automaticamente em paragem. Foi ainda em choque que me virei para o lado contrário da cama, tentando assim restabelecer-me do profundo desgosto que tinha acabado de sofrer, quando o meu ventrículo direito entrou em colapso. Só tive tempo de soltar um fatídico grito…
Ali estava ela outra vez, agora em versão fotográfica...
Assim está explicado um dos mistérios do casamento

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